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quarta-feira, março 16, 2005

Quem imita quem?

Sempre me vem a questão na cabeça ? se a arte imita a vida ou a vida imita a arte - e quando resolvo debater isso com as pessoas obviamente cada um tem um ponto de vista, o que até de certa forma é muito saudável.
Especificamente me refiro á teledramaturgia.
Sempre digo que tudo que é mostrado (encenado) na tv não foi uma obra de ficção inventada pelo ator do folhetim, são situações pinçadas do cotidiano de muitas pessoas ou famílias espalhadas pelo Brasil todo e quem sabe do mundo também.
Violência, amores possíveis e impossíveis, o café da manhã em família, a vida no morro, a vida no asfalto, a drogadição dentro de casa na rua ou nos aglomerados, desentendimentos agrários, desentendimentos de raça e credo, etc.
São tantas situações que o autor se reserva ao direito da licença poética e dedicar aos protagonistas uma trama á parte de amor e desentendimentos shakesperianos e por vezes intensivamente maquiavélicos.
As únicas vezes que realmente nada tem a ver com a vida real é uma cena em que um personagem é roubado e coincidentemente tem uma viatura da policia passando no local, isso realmente não acontece. Outro caso é o clássico é de o personagem querer um táxi e como que por coincidência eis um amarelinho (aqui em beagá eles são brancos) passando por ali. Isto realmente não acontece na vida real com certeza. Exageros e coincidências à parte é o puro retrato da sociedade em que vivemos.
Muitas pessoas me dizem que estas tramas não existem na vida real; sustento um pensamento e idéia de que nada é inventado tudo o que se passa em um folhetim é extraído de acontecimentos notórios, presenciados ou vividos pelo autor.
Discuto sempre com uma pessoa que me diz: Olha lá isto ta ensinando os filhos a mentirem para os pais! Eles estão ensinando como se rouba ou extorquem uma pessoa e não são punidos! Esse ménage a trois é coisa infame e mostram isso logo na na tv!
Como sempre tenho a mesma resposta pra tudo, seja em casa ?em quatro paredes? ou na rua estas cenas acontecem sempre, talvez não da mesma maneira mas o resultado final é sempre o mesmo.
Muito recentemente o caso de uma seqüestradora de bebês foi ao ar e logo me disseram isto vai ensinar as pessoas a seqüestrarem bebês, e ficou mais difícil eu manter minha opinião porque logo assim que a novela acabou houve um seqüestro de um recém nascido quase nas mesmas condições ? mulher com roupas de enfermeira tira bebê recém nascido dos braços da mãe e sai tranqüilamente do hospital ? isto não foi a primeira e infelizmente não será a última vez que acontecerá um crime desses, este não foi um caso isolado. O que temos que nos conscientizar é que os folhetins são o maior entretenimento da família no Brasil.
Amem, odeiem mas é assim que a diversão está garantida nos fins de noite, tem os lados merchandising, ficção, entretenimento, exagerado e tem o lado educativo na concepção boa da palavra. Já foram mostradas explicitamente campanhas de aleitamento materno, câncer de mama, uso da camisinha, combate ao mosquito da dengue, respeito aos idosos, busca a desaparecidos e tantas outras sérias e de interesse comum a toda sociedade brasileira.
Saindo da dramaturgia e entrando no mundo real recebi uma imagem em vídeo onde supostamente na rocinha acontece um tiroteio e um bandido atira em talvez outro bandido e quando este que fora alvejado jaz caído no chão recebe mais 3 ou 4 tiros, foram muito impactante as cenas aí volto a lembrar das novelas quando vejo tiroteios e assassinatos na ficção não tenho a mesma sensação de pavor.
Nosso cérebro já está condicionado para reagir com repulsa ou indiferença quando cenas reais ou fictícias discorrem à frente de nossos olhos, nenhuma delas são agradáveis de ver, mas da ficção para a vida real existe uma linha tênue que liga momentos de estresse e momentos de descontração.
Retornando a vida real, ao ver no jornal cenas de um advogado tentado subornar um agente da polícia federal para que uma determinada carga seja liberada, fiquei satisfeito com seu desfecho. O agente da polícia federal logrou o advogado no seu intento de ter o contrabando liberado sem os devidos tributos pagos; dando-lhe voz de prisão, com tudo sendo filmado com autorização da justiça, o dito advogado de origem coreana ajoelha-se no chão pede clemência e piedade pois tem família para criar e blá blá blá... e severamente o agente lhe diz levante-se! Você foi homem o bastante para tentar me subornar, seja homem para ser algemado e levado preso, este país está mudando!
O que esta história tem a ver com as novelas? Bem, na ficção os vilões nem sempre desfrutam de um castigo merecido pelo mal que fizeram ao outros durante toda a trama. Ou morem, enlouquecem, fogem...
No país que está mudando a passos lentos é bom ver que bandido rico ou pobre também tem seu brilho fosco estampado na tv e com argolas cromadas nos pulsos, se permanecerão presos ou não aguardem cenas dos próximos capítulos.

Dica pra ouvir: Liquid Tension Experiment - Acid Rain

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