A comunidade post comunitário proposto pela Micha segue em frente, hoje o tema é Amor Platônico, preferencialmente o relato de cada um, o meu foi assim...
Amor Platônico
Em uma tarde voltando do trabalho há alguns anos atrás, entrei no ônibus de volta pra casa.
Quando os pensamentos divagavam por paragens bem distantes ? as ruas, esquinas, comércio tudo era igual e o pensamento voltava às lembranças do que tivera sido um dia exaustivo no trabalho, pura rotina chefe mandando empregados obedecendo, cronogramas sendo executados... perdido em pensamentos ? os rostos das pessoas passavam diante de meus olhos e o olhar era apenas instintivo, se me pedissem para fazer um retrato falado de uma só pessoa entre vinte que já havia passado pela minha visão no espaço de dez minutos, eu não saberia apontar uma só característica de nenhuma delas.
Ao se aproximar da minha casa as pessoas iam descendo e o ônibus ficando mais vazio dava para a sensação de desconforto ir passando.
Meus olhos começavam a prestar mais atenção no que ocorria a minha volta, eu ainda estava em pé, pois não havia vagado nenhum lugar para eu sentar. Em um determinado lugar parei e quase quando os pensamentos iam abandonar a realidade novamente, uma freada um pouco brusca fez com que meu corpo projetasse um pouco para frente, senti minha virilha encostar-se na pessoa que estava sentada; mais precisamente minha virilha encostou-se ao ombro dela. Abaixei a cabeça para pedir desculpas e ela já estava me olhando, soltei um pedido abafado ? desculpa!
Em segundos vi uma linda menina cabelos negros, pele branca, olhos verdes ?pareciam esmeraldas - que antes de ofuscarem minha visão ainda percebi sua boca bem desenhada e sem maquiagem dizer um solene - desculpado, mas com um sorriso disfarçado no canto da boca.
Meu Deus! Pensei e bem alto dentro da minha cabeça, quem era essa menina? Onde mora? Como eu nunca vi esta criatura no ?meu ônibus??.
Daquele momento em diante eu só tentava imaginar onde ela desceria e se morava perto de mim. Os pensamentos giravam e quando assustei, ela levantou deu sinal olhou para mim e com os olhos disse - até logo.
Fui acompanhado seus passos, a descida dos degraus do ônibus e sua pisada firme na calçada, um giro rápido ela me olhou de soslaio e partiu com rumo seguro. O ônibus arrancou e duas paradas depois era eu quem descia, mas o pensamento era só naquela menina que roubara meu sossego. Cheguei em casa cheio de perguntas e poucas respostas. Fui dormir pensando naquela menina que se tornara minha Iracema.
Dois dias depois no mesmo horário de volta para casa, mesmo ônibus e nada de eu encontra-la, isso mesmo há dois dias eu a procurava sem sucesso. Caminhei pontos antes de onde costumeiramente eu pegava ônibus, pois no meu raciocínio quando eu a vi pela primeira vez ela já estava dentro do ônibus e já sentada em uma das cadeiras isto para mim significava que ela tomava o transporte muito antes de mim.
Dias se passaram até que encontrei a minha Iracema, cheguei propositalmente perto dela e olhava de relance procurando seus olhos de esmeralda eu sentia que quando eu a olhava, ela estava olhando para outro lugar e quando eu tirava meus olhos dela ela era quem me olhava procurando nos mais recônditos confins da minha mente algo que a dissesse quem eu era e o que desejava dela. Desta vez eu desci antes dela fiquei encucado, pois ela é quem deveria ter descido antes. Os dias se passaram e este era o roteiro eu sempre procurava seus olhos sem encontra-los e descia antes dela.
Certo dia eu já sentado em uma cadeira do ônibus senti uma pessoa roçando em meu ombro, era ela, senti enorme prazer naquilo e quis que continuasse, mas fui pensando esse ônibus está ligeiramente lotado e algum marmanjo deve estar respirando profundamente naquele pescoço alvo e tocando aqueles cabelos de índia, dei um salto e ofereci meu assento a ela e como um cavaleiro escoltando sua princesa eu fiquei impedindo a aproximação de qualquer pessoa. Aí que foi que aconteceu uma coisa que me deu enorme prazer ela era quem roçava seu ombro em minha virilha, mas era um gesto que ao mesmo tempo em que transparecia o profano era sutil e angelical.
Em casa e no trabalho ela era minha namorada - tínhamos programas já marcados para o fim de semana, cinema, passeios no parque namoro em casa ? minha mente organizava tudo, eu sentia saudades e sempre esperava o próximo encontro no ônibus para namorarmos um pouco.
Um dia sentamos lado a lado, oi pra cá oi pra lá e troca de olhares que diziam tudo, sua coxa na minha e com o balanço do ônibus havia uma fricção gostosa sua mão pousou inocentemente sobre minha perna com um arranco inesperado do ônibus, não cabia mais desculpas só um sorriso maroto no canto da boca dela e um consentimento do meu olhar de sofreguidão misturava-se com o dela que mostrava avidez, batimento do coração acelerado rítimo descompassado seu perfume levemente adocicado me inebriava e nossas pernas quase se entrelaçavam, os ombros não se descolavam e em determinado momento com delicadeza sua cabeça pendeu para aninhar-se em meu ombro como se ele fosse um cais que recebe uma embarcação perenemente pedindo ancoragem, naquele momento eu era um porto seguro.
Minha cabeça era um turbilhão de sentimentos de pensamentos minha boca teimava em não dizer nada o silêncio era nosso companheiro. Eu tinha que descer, as pernas não queriam, mas de repente como se parecesse combinado ela se desvencilhara de mim e me dava passagem, com o coração apertado desci.
Neste dia estava sentindo um amor como ainda não sentira antes e no dia seguinte planejei falar com ela tudo o que secretamente escondia em meu pensamento estava disposto a falar com a boca não mais com o corpo nem com os olhos por um só momento era o bastante.
Não encontrei mais ela; andei alguns quarteirões nas imediações do meu trabalho... nas adjacências da minha casa. Fiz isto por dias, peguei ônibus em horários diferentes.
Meu coração agora apertado pela ausência do meu amor ia explodir de ansiedade, saudade, em minha mente bailavam porquês intermináveis - porque eu não tinha puxado conversa ? porque não tinha declarado meu amor ? porque não perguntei seu nome, porque... porque...
Meses depois desisti da procura e senti que ela não estava mais perto de mim.
Meu amor platônico foi assim silencioso, puro, casto inocente e imaculado como deveria de ser. Amei e fui amado, fui correspondido plenamente. Só que um dia ela se foi.
Desta experiência aprendi que existe um amor que não é desgastante, ridículo, cheio de cobranças e que não tem rotina.
Ele fica saltitante na hora do encontro, receoso na partida e não morre na despedida, no entanto não espera, tem vida própria.
Amor Platônico
Em uma tarde voltando do trabalho há alguns anos atrás, entrei no ônibus de volta pra casa.
Quando os pensamentos divagavam por paragens bem distantes ? as ruas, esquinas, comércio tudo era igual e o pensamento voltava às lembranças do que tivera sido um dia exaustivo no trabalho, pura rotina chefe mandando empregados obedecendo, cronogramas sendo executados... perdido em pensamentos ? os rostos das pessoas passavam diante de meus olhos e o olhar era apenas instintivo, se me pedissem para fazer um retrato falado de uma só pessoa entre vinte que já havia passado pela minha visão no espaço de dez minutos, eu não saberia apontar uma só característica de nenhuma delas.
Ao se aproximar da minha casa as pessoas iam descendo e o ônibus ficando mais vazio dava para a sensação de desconforto ir passando.
Meus olhos começavam a prestar mais atenção no que ocorria a minha volta, eu ainda estava em pé, pois não havia vagado nenhum lugar para eu sentar. Em um determinado lugar parei e quase quando os pensamentos iam abandonar a realidade novamente, uma freada um pouco brusca fez com que meu corpo projetasse um pouco para frente, senti minha virilha encostar-se na pessoa que estava sentada; mais precisamente minha virilha encostou-se ao ombro dela. Abaixei a cabeça para pedir desculpas e ela já estava me olhando, soltei um pedido abafado ? desculpa!
Em segundos vi uma linda menina cabelos negros, pele branca, olhos verdes ?pareciam esmeraldas - que antes de ofuscarem minha visão ainda percebi sua boca bem desenhada e sem maquiagem dizer um solene - desculpado, mas com um sorriso disfarçado no canto da boca.
Meu Deus! Pensei e bem alto dentro da minha cabeça, quem era essa menina? Onde mora? Como eu nunca vi esta criatura no ?meu ônibus??.
Daquele momento em diante eu só tentava imaginar onde ela desceria e se morava perto de mim. Os pensamentos giravam e quando assustei, ela levantou deu sinal olhou para mim e com os olhos disse - até logo.
Fui acompanhado seus passos, a descida dos degraus do ônibus e sua pisada firme na calçada, um giro rápido ela me olhou de soslaio e partiu com rumo seguro. O ônibus arrancou e duas paradas depois era eu quem descia, mas o pensamento era só naquela menina que roubara meu sossego. Cheguei em casa cheio de perguntas e poucas respostas. Fui dormir pensando naquela menina que se tornara minha Iracema.
Dois dias depois no mesmo horário de volta para casa, mesmo ônibus e nada de eu encontra-la, isso mesmo há dois dias eu a procurava sem sucesso. Caminhei pontos antes de onde costumeiramente eu pegava ônibus, pois no meu raciocínio quando eu a vi pela primeira vez ela já estava dentro do ônibus e já sentada em uma das cadeiras isto para mim significava que ela tomava o transporte muito antes de mim.
Dias se passaram até que encontrei a minha Iracema, cheguei propositalmente perto dela e olhava de relance procurando seus olhos de esmeralda eu sentia que quando eu a olhava, ela estava olhando para outro lugar e quando eu tirava meus olhos dela ela era quem me olhava procurando nos mais recônditos confins da minha mente algo que a dissesse quem eu era e o que desejava dela. Desta vez eu desci antes dela fiquei encucado, pois ela é quem deveria ter descido antes. Os dias se passaram e este era o roteiro eu sempre procurava seus olhos sem encontra-los e descia antes dela.
Certo dia eu já sentado em uma cadeira do ônibus senti uma pessoa roçando em meu ombro, era ela, senti enorme prazer naquilo e quis que continuasse, mas fui pensando esse ônibus está ligeiramente lotado e algum marmanjo deve estar respirando profundamente naquele pescoço alvo e tocando aqueles cabelos de índia, dei um salto e ofereci meu assento a ela e como um cavaleiro escoltando sua princesa eu fiquei impedindo a aproximação de qualquer pessoa. Aí que foi que aconteceu uma coisa que me deu enorme prazer ela era quem roçava seu ombro em minha virilha, mas era um gesto que ao mesmo tempo em que transparecia o profano era sutil e angelical.
Em casa e no trabalho ela era minha namorada - tínhamos programas já marcados para o fim de semana, cinema, passeios no parque namoro em casa ? minha mente organizava tudo, eu sentia saudades e sempre esperava o próximo encontro no ônibus para namorarmos um pouco.
Um dia sentamos lado a lado, oi pra cá oi pra lá e troca de olhares que diziam tudo, sua coxa na minha e com o balanço do ônibus havia uma fricção gostosa sua mão pousou inocentemente sobre minha perna com um arranco inesperado do ônibus, não cabia mais desculpas só um sorriso maroto no canto da boca dela e um consentimento do meu olhar de sofreguidão misturava-se com o dela que mostrava avidez, batimento do coração acelerado rítimo descompassado seu perfume levemente adocicado me inebriava e nossas pernas quase se entrelaçavam, os ombros não se descolavam e em determinado momento com delicadeza sua cabeça pendeu para aninhar-se em meu ombro como se ele fosse um cais que recebe uma embarcação perenemente pedindo ancoragem, naquele momento eu era um porto seguro.
Minha cabeça era um turbilhão de sentimentos de pensamentos minha boca teimava em não dizer nada o silêncio era nosso companheiro. Eu tinha que descer, as pernas não queriam, mas de repente como se parecesse combinado ela se desvencilhara de mim e me dava passagem, com o coração apertado desci.
Neste dia estava sentindo um amor como ainda não sentira antes e no dia seguinte planejei falar com ela tudo o que secretamente escondia em meu pensamento estava disposto a falar com a boca não mais com o corpo nem com os olhos por um só momento era o bastante.
Não encontrei mais ela; andei alguns quarteirões nas imediações do meu trabalho... nas adjacências da minha casa. Fiz isto por dias, peguei ônibus em horários diferentes.
Meu coração agora apertado pela ausência do meu amor ia explodir de ansiedade, saudade, em minha mente bailavam porquês intermináveis - porque eu não tinha puxado conversa ? porque não tinha declarado meu amor ? porque não perguntei seu nome, porque... porque...
Meses depois desisti da procura e senti que ela não estava mais perto de mim.
Meu amor platônico foi assim silencioso, puro, casto inocente e imaculado como deveria de ser. Amei e fui amado, fui correspondido plenamente. Só que um dia ela se foi.
Desta experiência aprendi que existe um amor que não é desgastante, ridículo, cheio de cobranças e que não tem rotina.
Ele fica saltitante na hora do encontro, receoso na partida e não morre na despedida, no entanto não espera, tem vida própria.
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