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terça-feira, novembro 01, 2005

Alucinações alucinógenas e infecciosas a 40°,6 - Avareza

Guardei tanto e contigo não quero dividir. Não quero te dar nada, entenda é apenas uma maneira nova de poupança pessoal vitalícia, você não pode ver um centavo da minha felicidade que não comprei, extorqui. Pra que comprar sendo que há meios mais fáceis de se adquirir tanto aquilo que precisa ou não.

Não me faça dizer que tenho muito! Não tenho. O mínimo que tenho é insuficiente e tenho planos para guardar ainda mais tudo que vier. Tudo que tenho é uma galeria particular de repouso exclusivo de tudo que poupei. Tesouros em forma de notas, moedas, barras, lingotes, amores, paixões, alegrias reprimidas.
Moro modestamente por isso não mantenho ostentação, por exemplo: mantenho caderneta na mercearia e tudo que comprei foi fiado e sem intenção de pagar, prestações nunca, comprar nem pensar! Comprar o que? Se posso pedir emprestado e nunca devolver.

O povo me chama de unha de fome, mão de vaca essas expressões tão toscas quanto quem as pronuncia e cá pra nós a vizinha comprou um carro último modelo 0km, mas na hora do aperto é aqui em casa que vem pedir uma xicrinha de pó de café, isso eu empresto porque já é o pó da segunda coagem de café.
É o seguinte depois de passar o café pego o pó coloco no sol, ele seca e recolho pra usar dele novamente. Engraçado a vizinha deve gostar do pó de café assim, pois pede com freqüência... pra comprar carro ela tem dinheiro.

A avareza tomou conta daquele homem que por conseqüência acumulou um monte de outros defeitos de comportamento. E como definir os defeitos dos outros sendo que quase nunca reparamos em nossos próprios? Parece que os defeitos mais graves encobrimos e os mais leves deixamos escapar por mero descuido ou por desleixo mesmo, ninguém nota essas coisas miúdas, e se notam são intrometidas demais.

Guardar e guardar de tanto armazenar a comida estragou e o dinheiro... esse estáva dentro do colchão aquele que pegou fogo na casa grande é isso que da usar velas pra economizar luz, agora a casa grade ta lá toda chamuscada e sósobrou a estrutura de pé. Agora moro no barracão dos fundos independente, mas na mesma propriedade, minha toda minha; e atualmente usando iluminação de candeia não corro riscos, o único inconveniente é que as narinas ficaram pretas aí todos pensam que cheiro fumo de rolo, mas só masco ele.

Guardar... todos nos guardamos alguma coisa se não guardamos escondemos e isso no ser humano é normal, são nossos tijolos de construção que ao longo da vida usamos pra erguer o que somos a fachada para os outros verem, toda fachada tem de ser bem bonita, a de uma casa pintamos de tempos em tempos, nosso corpo leva sabão, água um creme de vez em quando. Natural é o tempo que castiga ambas as construções.

Com tudo guardado longe dos olhos de todos seguimos levando os cacos de nossa vida, do que fomos e do que somose quem sabe se juntarmos esses cacos decifrando o enigma do que um dia pretendemos nos tornar, deixaremos de guardar desnecessariamente os fantasmas das aspirações que controlam os instintos de amealhar mais pó nas gavetas da grande cômoda de nosso corpo cômodo. E quem sabe um dia voltar a oferecer e receber novamente.

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