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quarta-feira, junho 22, 2005

Senta que lá vem estória.

Quem pegou meu bife?

Credison Carlos, operário da construçao civil, casado, pai de seis filhos. Dois do primeiro casamento e os outros quatro do segundo. Morador de um bairro na periferia de Belo Horizonte. Em uma casa de dois quartos, alugada, mora junto com a mulher os seis filhos; cria dois canários um belga e um pastinha, uma maritaca maracanã dois cachorros vira-latas o Célio e o Valter, gatos tem uns cincos dois de criação e três rotativos, pois criar gatos em periferia e soltos não é muito fácil. Gato é um bicho independente ele se afeiçoa ao local ao dono ele não da muita importância.
A menina mais velha uma moça de 17 anos a Creidi está grávida e espera o primeiro filho que provavelmente irá nascer no fim do verão ela não sabe direito não fez o pré-natal e nem ultra-som, o pai um malandro lá da boca tem meia dúzia de filhos espalhados pelo mundo nem se da conta de que mais este que está por vir ao mundo. Já cumpriu pena por pequenos delitos, mas nunca foi pego pelos roubos a mão armada e pelo tráfico que comanda no morro.
Claudiane, Clênia trabalham em casa de família, Clodomílsom, Clodivaldo, largaram a escola e empinam, pipa o dia interiro, Cleudistom e Credisom Júnior muito pequenos ainda brincam dento de casa.
A primeira esposa de Credisom Carlos, ganha a vida como prostituta atendendo clientes na boate Soluar na zona oeste da cidade.
A atual mulher dele lava e passa roupas pra fora e com o pouco dinheiro que ganha paga um curso de tapeçaria, onde espera aumentar os lucros tecendo em vendendo os tapetes.
Credisom Carlos, nasceu na zona da mata e aos 28 anos depois de ter sido chapa de caminhão boa parte da vida, resolveu vir para a cidade grande tentar a sorte, trabalhou de empacotador de supermercado, flanelinha, vendedor ambulante e depois foi ser servente de pedreiro, profissão na qual ele conseguiu um emprego na construção civil.
Todos os dias levanta às cinco horas da manhã para pegar serviço às sete e meia largando as cinco da tarde. De casa para o trabalho do trabalho pra casa ao todo são quatro conduções que ele pega e nesses horários os ônibus estão sempre lotados é um alívio sempre que ele desce de um desses ônibus assim pode respirar melhor sem aquele empurra empurra dentro do lotação.
Todas as noites sua mulher já deixa a janta pronta pra que no dia seguinte possa fazer a marmita que seu marido sempre leva para o trabalho. Nos últimos tempos a vida não anda muito bem para a família e com o nível de vida lá no chão a alimentação tem deixado um pouco a desejar, tem dias que na marmita só entra o que tem ou seja nos últimos tempos o velho arroz com feijão é o cardápio único na marmita de Credisom Carlos.
Depois de ficar quase um ano na obra de um edifício na zona leste, agora é na zona sul que ele está trabalhando, quase os mesmos horários e sempre as mesmas quatro conduções ele sempre pensa: ?esse metrô de Belo horizonte não fica pronto nunca!? ao menos se terminassem as obras ele ficaria mais perto da onde moro eu economizaria pelo menos uma passagem e ganharia mais tempo no trajeto, teria que fazer uma caminhada de dez minutos, mesmo assim ainda economizaria meia hora nesse deslocamento todo.
Acontece que um determinado dia tendo que pegar sempre o ônibus linha 3002 que o levaria até o local da obra ? ele vestindo uma camisa do palmeiras muito desbotada e ultrapassada, sempre com o suor escorrendo pelo rosto e axilas empapadas dele causava náuseas nos passageiros do ônibus que já sabiam que naquele horário em sua maioria a lotar ônibus era de peões de obra que iam para alto da Avenida Afonso Pena, pois naquela região se concentrava o maior número de obras em andamento na capital mineira.
Credisom Carlos nem se dava conta do odor fétido que exalava e ainda estanhava por que as pessoas procuravam manter distância dele. Em um solavanco brusco devido a uma freada que o motorista do ônibus dera para não atropelar um pedestre que ignorara o sinal e atravessara a frente ônibus. A mochila de Credisom Carlos que já estava com o zíper estourado, deixara escapulir a marmita, que ao bater no chão abre-se deixando seu conteúdo rolar por sobre o piso do ônibus: arroz grudado, e um pedaço de angu com um pé de galinha fincado nele. Ao ver essa tragédia toda Credisom Carlos mais que depressa com a vergonha tamanha pela revelação inoportuna do que seria seu almoço não se deixa abater com altivez e firmeza aos brados ele grita: cadê meu bife? Quem pegou meu bife? Me dêem conta dele!

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